7 de maio de 2011

Uma pausa no mundo


Durante aqueles nove meses, além de carregar um coração novo, pequeno e sincero – e alguns bons quilos – ela sempre carregava o susto, a felicidade e a impressão de que, a qualquer hora, a barriga iria explodir de tanta ansiedade. E foi exatamente em um desses dias que, devido ao tempo, o coraçãozinho resolveu vir ao mundo e respirar com seu próprio narizinho. Foi aí que ambos os corações não descansaram nunca mais. Era o coração novo que teimava em se manter acordado quando o coração de mãe queria dormir e não conseguia descobrir a solução do choro de madrugada. E, mesmo assim, ficava ali, acordado, usando seus artifícios de mãe para que o bebê acalmasse e, finalmente, pegasse no sono. Enquanto as crianças brincavam, o coração de mãe sempre adivinhava qual seria o problema e, de antemão, confortava com palavras doces e curativos feitos com carinho. O coração de mãe também sabia ser o cobertor dos dias mais frios e chuvosos, quando parecia que o mundo ia cair. Ele deitava ao lado do coração menor e ali o fazia parar de bater tão acelerado. E, nesses 21, 18 e dois anos, parece que o tempo era só minutos. Em questão de dias o coração que antes era tão pequeno e frágil já era do tamanho do mesmo coração de mãe. Só do tamanho. Porque se fosse pelo significado e pelo que o coração carregava, a mãe deveria carregar o seu nas costas, assim como faz quando deve dirigir os primeiros passos dos filhos, quando deve levá-los no colégio e os deixa chorando, sabendo que é o correto. E aí sim, o coração fica tão grande que não cabe dentro dela mesma. Tão grande fica também quando deve assegurá-lo nas mãos no meio da noite, até que o filho chegue em casa, mesmo morando em outra cidade e já possuindo um senso de responsabilidade – graças a todo esforço desses dois corações, de mãe e de pai – enorme. E o coração de mãe fica ali imaginando se os filhos se alimentam bem, se cuidam e não passam frio à noite, porque não haverá mais ninguém com esse coração que vai cobri-los de noite caso não tenham pegado o cobertor. Ele fica ali bem apertado, rezando para que o filho tenha colocado o dito cobertor nos pés da cama. Mais apertado ainda esperando que o filho tenha ido ao mercado e comprado pão, frutas e leite. Magoado quando magoam o pequeno coração que já morou dentro dela por nove meses. Chora quando o choro do filho se faz presente e quando o filho briga e fala palavras duras. Mas esse coração de mãe é tão resistente que, quando o filho tem apenas dias, ele já sabe que vai criá-lo para deixá-lo solto no mundo, para que ele abra as asas e voe atrás dos sonhos. Antecipa os acontecimentos. E, mesmo assim, ela cria aquele coração pequeno com tanto amor e tanto carinho, que parece que conta cada dia, ano, até que ele vá embora e deixe um vazio na casa. Preserva o quarto para que ele volte. Guarda aquele monte de fotos e, de vez em quando, dá uma olhadinha nelas. Acha o filho a pessoa mais linda do mundo. Fala para todos que é. Mostra para todos. Exibe. E fica feliz quando escuta um elogio, não tanto para ela mesma, mas para os filhos. Dá um sorriso e concorda plenamente, contando as conquistas dos filhos seja para quem for, muito orgulhosa. Sempre lembra que aquele coração chorou muito quando era pequeno, pediu abraços e cheirinhos e dormiu muitas vezes com a mãozinha pequena assegurando a dela. Hoje a mão é grande e, às vezes, maior do que a dela mesma. Hoje o filho é tão grande e o coração cresceu tanto que nem parece que foi gerado dela. Mas foi. Aquele coração de filho sempre será pequeno aos olhos do coração de mãe e, aos olhos do coração do filho, o coração de mãe é a coisa mais inexplicável e incrível que existe. É clichê, mas dia das mães é todo dia, só que poucos lembram...