17 de outubro de 2009


Partimos do pressuposto de Adão e Eva. Certamente mantemos nossas dúvidas se a maçã nos condenou a seres pensantes, se era nosso “destino” ou se ela realmente existiu. E é claro que tudo isso nos leva novamente a questionamentos e loucuras datadas desde antigamente.
Então, pode-se supor que havia mesmo uma maçã ou que houve a ruptura do núcleo de um átomo, pois chegaríamos ao mesmo objetivo: nós. E que não haja nem religião nem ciência que predomine sobre minha conclusão.
Se estivéssemos nus, fazendo colheitas em plantações de subsistência e nossos maridos caçando para a janta, poderíamos não ter tecnologia ou qualquer coisa tão habitual ao nosso alcance que não sentiríamos falta, afinal, não saberíamos de sua existência. Poderíamos evoluir aos poucos, mantendo nossas classes sociais de acordo com a aldeia, tendo nossas diferenças não tão acentuadas como as perceptíveis atualmente.
Aí entra o papel do fascinante homem em partes desastrado. Mas não é pra ser uma história cômica. Do caminho das Índias ele fez um grande desvio e acabou encontrando a América. É claro que na época era considerado um descobrimento e Colombo ficou com a glória de encontrar uma nova civilização. O que foi descartado dessa história talvez fosse importante, ou não. Essa é a nossa história, a história de um povo que já lutou contra o Império, a ditadura. Se fosse diferente, poderíamos desenhar vários outros caminhos até chegarmos no melhor. O problema é: como saberíamos chegar até ele?
Da ambição chegamos à maçã, e da ambição também chegamos à teoria dos átomos e até onde a vantagem de ser pensante nos levou.
Então, se ocorresse progresso no continente que segundo os livros já era evoluído, um dia nos achariam e a colônia de exploração seria iminente. Tamanhos recursos encontrados aqui seriam atrativos demais para ser deixado passar em branco. E assim, seu desenvolvimento seria muito maior do que à época que nos colonizaram.
De tudo isso, vem a força de vontade de sobrevivência, que fez o homem se adaptar inconscientemente a tudo que vinha passando. Suas necessidades o faziam se adaptar, e essa constante mudança, felizmente ou infelizmente, ninguém é capaz de afirmar sem prós e contras, o fez ficar cada vez mais próximo dos sete pecados. Evidentemente, esses foram ditados também. Ainda existem aqueles que sofrem o medo de cometê-los.
As organizações de sociedades antigas, sem o advento do comércio, indústria ou qualquer outro tipo de atividade que envolvesse sistemas sociais, eram beneficiárias igualmente. Então se fala da utopia, pois desde os antigos, não houve jamais uma sociedade sem diferenças sociais ou raciais. Mesmo dentro de famílias nota-se uma posição patriarcal dos pais sobre os filhos, sobretudo o homem, que desde o princípio era considerado o chefe de família.
Então até hoje me pergunto: se essa maçã existia, Adão e Eva foram tão ambiciosos a ponto de prová-la e fazermos andar vestidos, pensando e julgando (até mesmo mal) tudo que nos contradiz e não nos favorece. Agora, se ocorreu a explosão dos átomos, julgo a mim mesma incapaz de julgar alguém, porque não existia Adão e Eva de acordo com a teoria da evolução. Consideremos Adão e Eva nossos antecedentes e nossos iguais e nos espelhemos neles para nos tornarmos tão ambiciosos que mal conseguimos enxergar além de nós mesmos e, quando conseguimos, não nos movemos para alcançar a mão ao nosso semelhante.

7 de outubro de 2009


De fato, sentir saudades era dolorido. É claro que era uma das coisas mais comuns encontradas no emocional de alguém. O dia estava ensolarado, e ela viu novamente a sua sombra cruzando paredes e pedras disformemente. Lá estava ela aos seus pés, representando a única coisa que não era menor que ela, e sim “alguém” que a idolatrava por nunca possuir a cor e o privilégio da vida. No resto, só tinha uma coisa a fazer: segui-la. Incessantemente. Até que o sol se pusesse, e a escuridão chegasse fazendo ela se unir à outras sombras que possuíssem o mesmo sentimento de inferioridade. Como ela já tinha observado há muito tempo atrás, tinha uma simpatia com sua sombra. Se parecia como uma amiga, pois a seguia até mesmo pelos caminhos mais tortuosos… E no escuro, quando achava que já não a via mais, descobria que a escuridão era uma grande aliada. Como alguém a disse um dia: “Os momentos e sentimentos são vividos aos extremos pelos poetas.”. Ela achava mais do que necessário possuir a solidão como um conforto e um incômodo. Paralelamente às antíteses, sentia-se confusa, frequentemente acordava e apenas observava a janela à sua frente, assistindo o tempo passar, ouvindo os segundos irem embora a cada tique compassado do seu relógio de cabeceira. Talvez fosse fácil e simples assim, não fazer o tempo valer a pena, e sim apenas deixá-lo passar. Depois de arrastados minutos, sua parede áspera e verde limão, nada condizente com o andar clássico abaixo de seu quarto, a chamou. Ela voltou à si mesma. Precisava levantar, desejar “Bom dia” à Lennon e buscar o seu cappuccino. Ali, ela somente sobrevivia.
“Escape from this afterlife.”