18 de janeiro de 2010

Os dias eram lentos. De vez em quando, seus olhos negros avistavam pássaros no céu. De fato, era raro. Quando isso acontecia, ficava paralisada, tentando entender como o leve das asas poderia ser tão fascinante. E foi em um desses momentos, quando sentia-se sem alma, quando entender ia além do seu pequeno mundo, que o homem de Saint Paul apareceu. E ele veio em direção a ela, com um sorriso inconfundível nos lábios, mostrando o brilho dos seus dentes perfeitos, que as asas incríveis que batiam acima do rosto dela não passavam de asas. E os pássaros não passavam de míseros pássaros. Era a teoria da anulação. Bastava que aquele rosto tão bem desenhado se apresentasse aos olhos, que o resto não era nada além de uma imaginação para apresentar-se fascinante. A análise daquele rosto, agora, era muito mais importante do que os pássaros. É claro que, quando o rosto fosse cruzar por outras pessoas – tão encantadas por aquele sorriso quanto ela – e a deixasse ali, parada, sem rumo, os pássaros seriam novamente o alvo do negror daqueles olhos profundos. E ele aproximou-se, desviou o olhar, com medo que aqueles grandes olhos da moça pudessem encantá-lo para sempre, e sorriu, assistindo o espetáculo do céu transformando-se em tons de vermelho. Ela mantinha-se incoerente. Olhava pro seu rosto com uma expressão indefinida. Ela queria senti-lo antes que ele simplesmente virasse e fosse embora. Então fitava-o continuamente. Foi quando seus olhos se encontraram, e repentinamente, ele sussurrou “Bom te ver novamente” e foi embora. Foi como se um pedaço do seu chão fosse tirado. E ali o seguiu, até que sumisse entre as árvores do parque pouco iluminado. Virou-se e procurou os pássaros, mas não os achou. Então, embora começasse a fazer um frio incomum, decidiu ficar um pouco mais ali. Talvez o tempo pudesse trazê-lo de volta. Era questão de acontecer quando menos esperasse. E ali, ela contava as horas e as situações, o imaginando chegar.