19 de junho de 2011

Ela precisou de dois segundos. Foi assim, rápido. Descobriu que o coração ainda batia. Ela, tão encantada por aquele céu, por aquelas cores, por tudo que vivia dia após dia, conhecendo Lennon naquele enquadramento perfeito, conhecendo o cheiro do sofá, o cheiro da cozinha, o cheiro de si mesma, não conseguia, de maneira alguma, ver o que poderia estar tão além ou extremamente perto. Ela vivia em uma escuridão comedida, mas sentia que às vezes era difícil andar sem tatear com as mãos o que vinha pela frente. O calor das mãos deixava as marcas nos móveis, deixava as marcas na pele, na vida. Deixava esse tato incerto, tato que não sabe o que esperar. Ela tinha receio de tatear, tinha receio do que viria, por isso tinha medo da escuridão e tinha medo de aceitar o coração pulsante. Não queria ver a luz apagada, que força os olhos a se acostumarem, força os outros sentidos a se aguçarem, ficarem mais apurados, porque tinha medo de se deliciar com o resultado do tato inseguro e querer mais de tudo isso. Caminhava sem saber direito para onde ir. Mas gostava disso. E daí por diante, sentia no cheiro o gosto bom do café e sentava no sofá pra sorrir melodias.
Saosin, I can tell