30 de julho de 2009

2 - Post Perdido.


Meça suas palavras e entregue-se à elas, nenhum dicionário trará a verdadeira intensidade da palavra amor. Para os céticos em sentimentos, nada mais que uma palavra, para os cegos amantes, talvez o rumo de uma vida. O que é “te amo” para aqueles que mais esperam? Talvez uma vida toda por cinco letras. Meça também seu afeto, um roçar leve que mãos úmidas, inocentes e nuas, para um cético, várias dúvidas e desvio do objetivo, para um amante, um novo início e o aguardo de cinco letras. Meça suas lágrimas e não se admire por aquelas que não mereceram cair, se cairam não foram em vão, pelo menos no momento em que passou. Meça um abraço, que pode ser considerado tão insignificante quanto uma palavra para os descrentes e insensíveis. E é quando o sentimentalismo resolve sair por cada poro de nosso corpo material, que infelizmente, por nos acharmos jovens demais, preferimos desacreditar no amor e não lhe dar chance.

24 de julho de 2009


Durante dois dias não tinha esquecido o rosto minúsculo da criança de cabelos finos. A menininha não voltara, e ela sabia que não voltaria a vê-la. Só gostaria de saber se o frio a encomodava, se ainda estava com fome e se ela estaria bem. Trazia preocupação, sentia que deveria ter feito alguma coisa enquanto a tinha em seu alcance… Porque apesar de tudo, sabia que era tão simples fechar os olhos e ignorar os fatos… Mas não poderia. Alguém poderia se sentir como ela? E os sonhos da criança, por onde andariam? Teriam um alicerce, uma formação, uma ideia, um apoio? E os olhos dessa mesma criança, o que veriam ainda? E o abraço dado diariamente por um coração quente, ela não teria… E durante dois dias não tinha esquecido o rosto minúsculo da criança de cabelos finos. No terceiro dia, já não lembrava direito dos seus olhos amendoados e nariz pequeno. Só lembrava da cor do cabelo e do formato do rosto. Era um tom de dourado bonito, com o fio fino. E seu rosto era arrendondado, com um queixo extremamente charmoso, com uma leve curva. Era sua única lembrança permanente da menina, até que seus pensamentos a apagassem inteira de dentro de si. E durante dois dias não tinha esquecido o rosto minúsculo da criança de cabelos finos. O seu caminho foi feito novamente, e não conseguia olhar para aquele chão sem lembrar dos pequenos pés saltitantes que ali a acompanhou por poucos minutos. Então, novamente, trocou de Avenida. Seus olhos não haviam se acostumado mesmo com aquela, era fácil de se conformar dessa maneira. E na outra Avenida encontrou telefones públicos vermelhos e uma multidão. Por onde tinha andado esse tempo todo, procurando afeto sem procurar, e não vira que ali do seu lado existia uma rua onde conquistar seria tão difícil quanto se desapegar? O homem de Saint Paul, o mendigo, a baixinha de pernas curtas, o homem e a pequena garota, e a menininha. E durante dois dias não tinha esquecido o rosto minúsculo da criança de cabelos finos.

A walk on part in the war, for a lead role in a cage? How I wish, how I wish you were here.

22 de julho de 2009


Como o esperado, a garçonete pegou o papel, leu, e ficou olhando para os lados, como se uma pedrinha amarrada em outro papel fosse cair em sua cabeça. Chegou a olhar para o teto. A mulher do lado de fora riu. Ela riu. Parecia tão estúpida rindo solitariamente ali fora… Foi para casa, pela outra Avenida, claro, o mendigo e seus outros “companheiros” haviam sumido… E naquele caminho se sentia mais segura, pois ali não tinha ninguém, absolutamente ninguém, então não perderia o afeto conquistado (até porque o seu saldo antigamente positivo hoje estava zerado). O outono parecia se estender e os dias não passavam, eram como longos minutos, talvez doloridos ou não. O seu maior sonho era estar ali e estava o realizando, o que faltaria? De alguma maneira, sempre tão cheia de pessoas e com a atenção de quem admirava voltada para ela, a solidão e estar sozinha a confortava. Sentar com muita gente ao seu redor e preferir sentir o vento gelado batendo em seu rosto quente, era muito melhor do que saber que o vento barrava e ficava naquelas pessoas. Sentia-se tão fria. Tão inocente, olhou para seus pés e começou a pular as lajotas brancas, não poderia pisar nas linhas. Porém, seu all star insistia em deixar sua ponta pisar as linhas. Foi andando assim por uns 100 metros, que encontrou uma menininha fazendo o mesmo. Ela estava sozinha e com um ralo casaco rosa. Imaginava se não estava com frio. Baixou a cabeça e continuou pisando nas lajotas escuras, foi quando ouviu um “Você pisou!” em um inglês de vozinha fina, delicada e infantil, saindo da boca da menininha. Perguntou se a menina não estava com frio, e ela respondeu que não tinha outros casacos, que não via sua mãe desde pequena e que sua irmã dois anos mais velha era quem a cuidava. Contou que era muito feliz, que sua irmã a amava e que seria “médica de bebês” quando fosse adulta. E uma sensação a corroeu por dentro. O que sentir quando ela chorava enquanto possuia “tudo”? E ali estava na sua frente, o exemplo de inocência e graça de uma criança, que idolatrava as lajotas londrinas, que sorria para estranhas e passava frio, sem aparentemente reclamar ou viver chorando. Convidou-a para ir comer alguma coisa, e a menina sorrindo, aceitou e agradece. Sentaram em um banco clássico em um parque, e ficaram conversando. Ela olhava para a menina e enxergava alguém extremamente forte. A menina agradeceu, sempre sorrindo, deu-lhe um beijo na bochecha (admirou-se, não era um costume de lá), e disse que precisava ir. Ficou a seguindo com os olhos até a esquina, e ela dobrou e sumiu. Olhou ao longe e viu uma pequena árvore, de tamanho parecido com o da menina. Chamou-a Jenny. Era sua segunda perda. Não conhecia as pessoas as quais perdera. Não sabia das suas dificuldades, não explicava o que eles, aquelas poucas pessoas, representavam para ela. O que era chorar naquela hora? O que eram os seus sentimentos ali, naquele momento? Quando ela finalmente percebeu que seus problemas e suas conclusões de vida pareciam ser muito menores do que a dos outros? Como explicar aquela felicidade inesperada de um pequeno ser humano sem mãe, com frio e fome? E por tanto tempo foi cega e egoísta… E por muitos dias a sua mente se ocupava apensar em pensar em quais seriam os fundamentos de uma ação recebida de alguém… O que era agora esperar? Sentir as vozes roucas sussurrando palavras fora de consolo, e ao mesmo tempo a fazendo escrever compulsivamente, prendendo dentro de si aqueles rostos desconhecidos e sorridentes, dos quais só lembrava o nada? Exatamente nada.

Porque me encontro nas entrelinhas? “Quem é mais sentimental que eu? Eu disse e nem assim se pode evitar.”

20 de julho de 2009


O canto da porta vermelha do café estava bastante sujo, pintavam nele tons de ferrugem e algumas poeiras já de “estimação”. Agora a garçonete de cabelos ruivos já era conhecida, e lhe trazia um cappuccino levemente adoçado e muito quente, como era de seu gosto. Sorriu-lhe e deu as costas, ocupada em pegar o pano de limpar o balcão, que fugira das suas mãos por duas vezes seguidas. Seus sapatos pareciam dizer um caminho para seguir, porém seus pés apressados e embaralhados (que ela vinha notando desde que voltara a frequentar o café) demonstravam sua personalidade atrapalhada. Frequentemente via o dono do bar soltando gritos e ameaças por todo lado para os funcionários. Era gordo e tinha uma careca extremamente bem lustrada e, se não fosse pelo fato de ficar vermelho e se sacudir impacientemente, ninguém notaria a densa peruca de fios loiros que tomava sua cabeça. Apesar de vários pontos negativos que notava no dono do bar, ele sempre desejava bom dia para seus clientes, e saía resmungando, falsamente contente, para a rua pegar um táxi e ir ao mercado. Em todo esse tempo, ela continuava lá. Ele voltava com pesados sacos de papel, na sua cor escarlate e no calor que sua raiva transpirava. Ela ainda continuava ali, tomando seu café e analisando o canto escondido e acanhado da porta, como se tivesse vergonha da sua sujeira. Quando um vento arriscava-se a cruzar por baixo do vão da porta, o pó sacudia-se devagar, as partículas erguiam-se… E desciam. Repousavam. Novamente, erguiam-se e desciam… Então pediu à garçonete um papel e uma caneta, ao passo que esta saiu aos tropeços para entregar o pedido. Sentiu-se mal por pedir para a moça de cabelos ruivos voltar, mas ela foi disposta e voltou com um peso de papel, uma bonequinha em miniatura. Curvou-se na mesa e escreveu “Os cantos também precisam de vocês.”, colocou embaixo do peso delicado, juntou o cappuccino, abriu a porta tocando o tintintlar e ficou observando atráves do vidro a reação dos longos cabelos laranjas e olhos azuis.

“O pensamento é o único lugar onde ainda estamos seguros, onde nossa loucura é permitida e todos os nossos atos são inocentes.”

14 de julho de 2009


Sentia-se dolorida. Tinha acordado muito rápido e estava tonta. Mas nela ainda restava um suspiro quente, um resquício de vida humana. Enquanto aquilo existisse, ela estaria pronta para mais um dia. Um respirar cansado e profundo, que de qualquer forma, representava suas funções vitais com a mesma força de antigamente. Não se anulava e nem se diminuía, sabia da sua importância, embora ninguém pudesse demonstrá-la. Como se não bastasse, o céu mostrava um fino feixe de luz, só um. Naquele dia ela desejava mais do que nunca um raio de sol, um céu em cores e não em escala de cinza. O grande centro londrino estava cheio de pessoas indo e vindo, cartazes persuasivos com letras grandes, e nas vitrines, enormes letras expondo o comum OFF. Sua sombra era sua única seguidora, sua única admiradora, pelo fato de erguer-se imponente e possuir tons e arranjos próprios enquanto ela era apenas o sol barrado por um corpo e deveria estar aos seus pés por toda a vida. Aprendeu a amá-la. Esforçava-se para não lembrar, fechar os olhos e não ver, mas nem sempre era possível. O calor que recebia de estranhos era anulado pelo frio que encontrava quando seus dedos giravam a maçaneta da porta. Eram o par perfeito, o frio e o calor, a encenação e a vida real, a afetividade e a frieza, que se anulavam instantaneamente. Porém, ali o que realmente estava em jogo era o equilíbrio. Eles eram perfeitos, completos, e anulados. A chama e o gelo, mas não exatamente em todas suas formas. Elas não existem, e a isso chamam de utopia, porque sempre há aquele que doa mais do que recebe.

Fall for you – Secondhand Serenade.

10 de julho de 2009


E o refúgio dos seus problemas fugia de seu alcance. Era tão egoísta e arrogante que queria saber tudo, esquecendo que o importante é sentir. Se não achasse as palavras certas, como definiria as coisas? Precisava sentir, aprender a soltar suas expectativas. O que sabia é que de tanto negar suas próprias habilidades e seus talentos, já não ouvia mais a frase daqueles antigos amigos que faziam as sílabas de “Você é especial” soarem corajosas e persistentes. Nada enchergava nela mesma, os seus planos para o futuro eram tão incertos, e eram só planos, planos… Hoje e amanhã eram tão imprevisíveis quanto o seu humor. Sua euforia e sua tristeza se alternavam e chegavam no ápice. Como era dependente dos outros, mesmo inconscientemente. O frio e o escuro convidativo, pelo contrário do que se pensa, não era obscuro e inviável a sorrisos. Para ela era um momento incomparável do dia, tinha um significado igual ao de um céu azul e um sol brilhante para os outros. Não significava melancolia, significava poesia, significava fechar os olhos e sorrir, sentir o vento gelado bater no rosto e estar aquecida, significava simplesmente chorar de felicidade por presenciar uma cena única em um minuto jamais repetido num estranho segmento chamado tempo. E os dias passam e o céu muda, e a luz não se esgota nunca, pela noite ela apenas se esconde e amanhece anunciando mais um dia… Das nossas vidas. O que fazia era comandado pelo vento, ele a varria, a impulsionava, era só o vento que movia suas pernas que ficavam dia após dia mais pesadas, até chegar a porta vermelha e o letreiro azul do seu café. O que hoje vale um abraço? O que se vende? Carinhos não sinceros, sorrisos e abraços, todos comprados, e o que vale, então? Em seu passado ficavam aqueles sentimentos doloridos da falta de um abraço quando ele era pedido… Apesar de o ter ganho quando mais nova, com o passar dos anos a frequência que o recebia era menor do que antes. Sabia que isso não era falta de amor, só não conseguiam demonstrar…

"Dia,

espelho de projeto não vivido,

e contudo viver era tão flamas

na promessa dos deuses; e é tão ríspido

em meio aos oratórios já vazios

em que a alma barroca tenta confortar-se

mas só vislumbra o frio noutro frio."

Elegia, Carlos Drummond de Andrade.

9 de julho de 2009

Post perdido.


Mantém teu cigarro aceso pra acender o seguinte, acredita cegamente no amor e na vida utópica, e no silêncio só o que tu serás capaz de lembrar vão ser os fatos, talvez sem a mesma importância de antes no hoje. Não sinta a falta deles. Tu já fostes tão frio, então o seja novamente ao lembrar que quando tudo estava nas tuas mãos, a única coisa que recebiam era indiferença dos teus olhos… Mas também não finja que um dia isso foi nada pra ti.

O castelo era de areia, o cavalo branco nunca tinha existido e o príncipe tinha uma personalidade diferente dos livros. Foi aí que eu vi que não existiam os contos de fadas.

“Eu sei não é assim, mas deixa eu fingir e rir.”

6 de julho de 2009


Aonde estava transformava seus dias à razão do Carpe Diem. Associava o prazer de abrir os olhos com o dia continuamente especial e feliz. Tratava o governo com igual insignificância que era tratada, preferia seguir sua vida com seu ar poético e conquistas tão fracas – porém importantes – quanto sua solidão. Parecia mais sozinha do que seus olhos diziam… O tanto que sua vida passava de abstrato se fazia concreto nas pedras, nas flores, na humildade das sementes que traria novas árvores. Destas, a vasta copa traria a sombra, e dos vastos galhos penderiam frutos doces e matariam a fome daqueles que dela provariam… E tudo era causa da semente. Tão pequena e tão significativa. E ela o que seria em relação ao público visionário que encontrava ali? Seu particular era visto e criticado? Seus olhos e seus sentidos eram percebidos por aqueles espectadores? Era difícil dizer. Raramente encontrava um sorriso, era mais comum encontrar olhos cansados que não conseguiam absorver suas razões ou olhares pesarosos, com sentimento de pena. Não eram olhares dignos pois nem ao menos sabiam o que acontecia com ela. Como uma armadura, traçava dos pés à cabeça um sistema isolado do meio em que vivia e achava sua proteção e companhia no silêncio e nos acordes da música. No sibilar rouco dos pássaros e na singela repetição dos grilos e das cigarras… Que não via há muito tempo. Já nem lembrava do dançar das águas doces e de beleza de uma praia, tão colorida e igualmente azul, onde o horizonte era apenas uma linha que dividia os tons de azul. O tempo se mostrava agradável e receptivo, então ela decidiu sair e encontrar as folhas e a arte. Seu porte feminino esbanjava sua sensualidade, antes reprimida em seu casaco comprido e escuro. Usava uma bela blusa branca que cruzava abaixo do cós de sua calça preta, e botas brancas que faziam o barulho que tanto a encomodava. Seus cabelos estavam soltos, e devido à passagem de duas estações, estavam muito longos e chegavam na sua cintura. Levava também um lenço vermelho ao pescoço. Tão irônico ao lembrar da Guerra dos Farrapos, e momentos que refletiam em seu lenço, que por sua vez, pintava levemente seu rosto de rosado claro e trazia a bravura e o sentimento nacionalista à sua memória. E o que levaria aquele vermelho embora um dia? O homem complexo e irracional que exulta o fato de pensar além dos animais mas porta-se como tal… Que não sabe amar e coloca acima de pessoas, laços e corações a sua ambição, que derrama líquido vermelho e lágrimas salgadas e densas… (…)

2 de julho de 2009


E agora… Qual seria o tema de sua vida hoje? O sentimento de abandono ocupava seu quarto, ela se deitava e sentia um afundar do colchão ao seu lado, a tão conhecida solidão apagava a luz e sussurrava em seu ouvido palavras de dor e sua garganta começava a doer, seu coração batia descompassadamente, dentro dos seus olhos sentia o peso daquela água salgada, e adormecia. Logo ao acordar, o dia refletiu em seu humor, um céu mais claro e receptivo transformaram sua tristeza em luz e cor. O que veria hoje? O que sentiria? Faria as mesmas coisas e não acharia mais interesse ali? Saiu para fora de casa pensando no que fazer. Era certo que viver somente com uma herança como a dela era uma ambição de qualquer pessoa, abririam mão de trabalhar e viveriam facilmente com muitos confortos. Sabia que lhe faltavam conversas, sorrisos e companheirismo. Como havia sobrevivido tanto tempo sem isso? Queria falar de poemas, romances e músicas, queria que seus cinco sentidos exercessem um papel importante e contrutivo de acordo com seus pensamentos afetivos. Já era outono… Já fazia tanto tempo desde o inverno que chegara ali. E aquele outono fazia as árvores derrubarem suas folhas (belos tons de dourado) lamuriosamente, lembrando que cada uma delas era uma parte do todo. Lamentando-se, de que perdendo aos poucos, no fim já não possuía nada. O formato delas não se definia. O chão era incrivelmente bordado de laranja, amarelo e tons de outono. E as folhas caíam… E os gramados das casas estavam intactos e extremamente verdes, os portões brancos estavam alvos e as casas iguais continuavam exatamente ordenadas como antes… É, é verdade. Ninguém arriscaria uma cor azul chamativo ou rosa pink entre aquelas clássicas casas brancas muito bem distribuídas e com seu terreno milimetricamente contado. À medida de seus passos, podia distinguir ao fundo de uma casa e outra, uma família sorrindo em mais um almoço, um cachorro correndo e fazendo brincaderas com três crianças, os pais filmandos os primeiros passos de um bebê. Era uma cena de cinema.