23 de março de 2011

Sorriu para o espaço em branco que se formava atrás da porta. Claro e amplo, porém, escondido. Ninguém o via, a não ser que a porta se fechasse e ele se tornasse um espaço maior, convidativo, que coubesse, ao menos, duas pessoas apertadas e confortavelmente abraçadas. Ela não queria que ninguém mais ocupasse aquele cantinho branco que ali ficava. Negava com a cabeça que era um pensamento egoísta, e se justificava dizendo para as paredes e as almofadas do sofá que o canto já havia sido ocupado por algumas vezes e que, dessa maneira, o branco já não era mais o mesmo. Ela queria limpá-lo e deixá-lo completamente alvo até que pudesse ser ocupado de novo por alguém que soubesse cuidá-lo. Enquanto isso, mantinha a porta entreaberta e cuidava cada um que passava em frente a mesma, sorrindo, ignorando-a, dizendo que ela mesma fazia papel ridículo. Ela, contudo, sentia-se feliz preservando seu cantinho quente e tomando seu cappuccino. Era cômico vê-la ali, com seu velho cachecol, sorrindo entre dentes e arrumando o cabelo do rosto, enquanto bebericava notas e silêncio, fumaça e frio, olhares e indiferenças, canções e poesias. Ela estava realmente feliz assim.