29 de junho de 2010

Com tudo completo, intocável, ela era a única coisa que havia restado do sonho. O único elemento que outrora era fundamental hoje fazia parte de uma realidade qualquer. E de tanto passarem os dias, a realidade escorria por seus dedos finos de unhas compridas, não permitindo que outros sonhos crescessem e nem que o primeiro deles fosse aproveitado. De minuto em minuto, folheava um velho jornal amarelado, o primeiro jornal que havia comprado, tão sem necessidade para ela quando o noticiário que assistia todas as manhãs sem entender. Perdida em devaneios, aproveitava cada segundo sozinha dentro do quarto. Sabia que na sala haveria Lennon, cuidando seu rosto delicadamente através dos seus óculos pequenos, que na rua haveria os desconhecidos, só cruzando por ela, e sempre haveria uma criança pra ceder um sorriso de bom dia.
"O mundo todo é hostil..."

15 de junho de 2010


O frio parecia constante. As músicas traziam nostalgia, regressos de memórias tão sólidas que não teriam sublimação com nenhum tipo de calor. As composições e as letras lembravam coisas que não voltariam, como palavras e simpatias. E a cada dia que passava, mesmo tendo olhos verdes junto dela, faltavam pedaços de pessoas tão importantes quanto ele. Era aquele anjo do tempo bom que deixava as coisas sempre voando, flutuando. Assim que, de leve, caíssem no chão os pensamentos ou as verdades, ela acordava e sabia que ali o mundo era tão real quanto contos de fadas. Fechava os olhos e esperava encontrar um passado mais presente (cheio de muito mais). E quando procurava as letras, tudo fugia dela. Qualquer maior sentimento que procurava expressar, era confiscado das mãos e parava em algum lugarzinho apagado e sem luz dentro de si. Lá dentro ele era processado por muito tempo, enquanto do lado de fora seus olhos faziam exposição de saudade.