19 de maio de 2011
Pintou um fio fino de criatividade. Aquele mesmo que brotava sempre junto à solidão. Ironicamente, a solidão tinha pego suas malas e aberto a porta, indo embora, não deixando nenhum pedacinho dela mesma, e sim um cantinho mais pessoal e bem iluminado pela fresta. Ela sentia-se completa como jamais se sentiu antes. A criatividade tomou conta, devagar, espaço por espaço e, subitamente, seus olhos viam muito além de Lennon. Seus olhos enxergavam conceitos, histórias, fatos e tudo que se podia ver. Ela passou a engolir todas e quaisquer coisas que fossem possíveis, lambendo os lábios quando deixava um detalhe escorregar. Ela não queria perdê-lo. Saboreava lentamente, absorvendo cada gosto nesse sentido. O gosto, o sabor. O calor das palavras, esse doce e o amargo, nos extremos. Essa bebedeira de detalhes, esses sorrisos dados pela rua sem intenção de recompensas, esses gestos tímidos e intimidados por olhares e essa coisa toda que se passava nas Avenidas cheias de pessoas pensantes. Contou cada curvar de lábios, cada passo dado em direção ao café, cada grosseria proferida pelo careca da cafeteria e cada furinho que a mesa tinha. Assoprou a fumaça quente e, com o rosto quente, sorriu. Ela sempre sorria no final.