24 de maio de 2011
Manchas ensolaradas pintavam o sofá da sala. Refletiam no rosto de Lennon também, dando a impressão que seus pequenos óculos estavam ali, tão reais quanto nunca. O calor do café tomou conta de seu corpo, aquecendo atrás das orelhas o frio que insistia em ficar ali. Saiu e começou a andar contra o vento. Naquela oposição e extremos de sensações, pensava em destino, em pessoas, em dar as mãos. Mãos que tanto tentou manter junto às dela, e que apareciam e iam embora a toda hora, fazendo ausência, marcando sentimento. O casaco preto batia em seu corpo, dançava, se revoltava com o vento. Os folhetos amarelados eram apenas mais algumas folhas caídas de outono que rolavam e eram empurradas pelo vento, seguindo aonde ele levava, sem vontade própria. Existia todo esse fluxo indefinido, essa falta de importância dos caídos no chão sendo apenas empurrados por um peso maior do que eles mesmos e motivados pela falta de vontade de lutar. Ela sabia que existiam pessoas que eram como as folhas. Seguiam o vento, não tentavam voltar atrás e ainda alimentavam o pensamento de que era impossível virar as costas e caminhar em outra direção.