31 de maio de 2011


O cenário era quase sempre o mesmo. Aquele sofá quente e aconchegante da sala, estrategicamente colocado de forma que o sol da janela se fizesse presente para pintar o tecido logo cedo, pela manhã. Lembrou-se de um baú, pequeno e vermelho, que guardou por tanto tempo e que já estava meio esquecido, empoeirado. Lá dentro ficavam coisas que jamais poderiam ser imaginadas. Eram papéis antigos, algumas coisas não tão antigas, e sim velhas, e umas memórias que rezavam para serem esquecidas, sendo assim, lembradas. Era um baú simples, fechado com uma chave secreta que ela, teimosamente, deixava cair em certas ocasiões nas mãos de alguém, permitindo que diferentes olhos percorressem todos aqueles sorrisos encaixotados uns sobre os outros, datados, catalogados e fotografados. Permitiu, em certos momentos também, que diferentes mãos tocassem nas lembranças congeladas que ficavam embaixo de tudo que poderia ser mantido ali, para que congeladas ficassem até que ela sentisse necessidade de aquecer para derreter. Foi nesses encontros da chave com mãos, do ferro na pele, que a chave nunca mais quis ser guardada. Lá estava ela, tentando manter o baú fechado, quando a chave dizia que gostaria de sentir o calor da pele. Metáforas a parte, os cabelos negros, com toda certeza, estavam voando, sentindo e aproveitando o sabor do vento.

“Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.” Caio Fernando de Abreu