18 de maio de 2010

O dia estava mais escuro. As horas se arrastaram e quando o céu foi desbotando suas cores noturnas, seus olhos foram de encontro a outros. Já acreditava que de tanto caminhar, era mais do que hora de bater seus olhos em olhos de pupilas vivas, pulsantes. E foram neles que encontrou o inesperado. Eles eram verdes, muito embora parecessem de um escuro mais exótico, e eram convidativos. A mulher londrina passou devagar a mão pelos cabelos negros e deu um sorriso embaraçoso, cheio de disfarces. Quem era ele? A princípio parecia alguém tão sem procuras, sem objetivos, que deixar-se enganar pelos olhos e pelos lábios era pura inocência, uma inocência pura. E dos lábios dos dois nasceram sorrisos pequenos, apertados. Dentes deixaram-se esconder pela timidez e pela simplicidade do momento. Nenhum dos dois falaria nada. Nenhum dos dois se olharia mais do que apenas alguns segundos, segundos miseráveis comparados ao tamanho da pulsação que os dois sentiam. Ela apertava as mãos na fuga dos seus próprios pensamentos. Seus olhos estavam alagados pelo frio e faziam um poço perolado, liso e admirável. Foi quando notou que ele desviava sua atenção para inúmeros lugares mas que, no fim, já estava observando a moça de cabelos cor de petróleo, que sorria para ele. O acaso age quando sente necessidade. Ela sabia disso. Há sempre mais no acaso do que no planejado. Há sempre muito mais em se deixar levar do que contar grãos de areia pra construir um castelo. No fim, ela sabia que podia contar com a ajuda do vento não calculado pra erguer torres com o passar do tempo.