11 de maio de 2010

Dias comuns. O vento soprava mediocremente lufadas frias para quebrar o quente que nascia levemente. O café se mantinha na mesma temperatura, na mesma intensidade, na mesma mesa tosca e na mesma cadeira. A única coisa diferente era o fluxo de pensamentos que aparecia a cada cinco minutos. Eles tomavam todo espaço vago, todo aquele espaço não ocupado pela distração de tomar o café observando o dono do bar careca e seus insultos. Faixas contínuas de preocupação e de tristeza martelavam seu subconsciente, torturando, pingando devagar. Um bom método de fazer acordar para a vida, pensou. Nessas palavras, com esses pingos lentos, um a um, alagando a área mais profunda e mais sentimental da moça de grandes olhos escuros de Londres. Naquele dia os mesmo estavam marejados, piedosos, desejosos. Estavam diferente daquele negror habitual. De certa forma, pediam abrigo. Clamavam a alguém, mesmo que desconhecido, para uma troca de olhares afetuosos. Então, sentada no café, contava sua respiração. Brincava com a fumaça que saía aquecida da boca com o frio do lugar mal ambientado. Já tinha pensado em trocar de café, mas o lugar pouco lembrado e solitário a atraía como um ímã. Não queria mais ser egoísta da sua própria companhia, mas aquilo a saciava de tal maneira que os olhares afetuosos que implorava através das ruas gélidas tornavam-se infinitamente pequenos. Não sabia mais como se doar e já não o queria mais. Só observava, reunia traços e rostos, nariz e sobrancelha e passava para o papel. Transmitia a arte de sentir. Não era de ferro, era muito mais de vermelho, de sensações. Era carnal e meiga, risonha e triste, tímida e extrovertida. Dela brotavam enormes ramos de contradições.