
Saiu para fora de casa, o verde de seu caminho de pedras estava salpicado pelas gostas da chuva da noite. Duas pequenas poças estavam ao lado da sua flor mais bonita, que apesar de gostar tanto da sua beleza, não sabia seu nome. A poça à sua esquerda refletia sua imagem distorcida. O vento batia na água e formava leves ondas. As gostas de chuva que restaram nas folhas das árvores iam caindo, e de cada pingo desses, ondas compassadas iam aumentando proporcionalmente. Em um instante que fitou o seu rosto, já não o via mais. Só conseguia enxergar o céu nublado e escuro. Levantando a cabeça, conseguia ver além da cerca vizinha, duas crianças sentadas com as pernas cruzadas, como jovens mocinhas falando de namorados. Que irônico… Lembrava de uma situação que passara dias atrás. Em um banco estavam duas meninas, eram pequenas e tinham uma bolsa cada uma, e olhos pintados. Passados curtos minutos, dois meninos chegaram, sentaram ao lado delas e sairam de mãos dadas. Então, ela se perguntava qual seria a razão mais forte que a fez desistir da infância e das panelas na cozinha rosa em miniatura. As antiguidades e aquilo que antes era considerado caretice, hoje denunciava a falta de brincadeiras no quintal das casas. Que ironia. Logo ela, que vivera cada instante da sua infância, via duas pequenas meninas daquela maneira. Desviou os olhos delas e correu-os novamente para a poça. Ela ainda estava ali, com sua imagem desfocada e disforme, só que dessa vez, havia algumas folhas boiando nela.