26 de agosto de 2009


O que ela fazia dali em diante? E ao considerar a expressão “em vão” lembrava-se de um passado não tão remoto e ainda não superado. Apesar das suas perdas serem relativamente pequenas e insignificantes para qualquer outra pessoa não tão observadora e sensível como ela, ela sentia um grande vazio pela ausência deles. Mas o que era hoje relembrar? Talvez um ou outro guardaria o sorriso sereno e receptivo dela de todas as manhãs, provavelmente esse seria o mendigo, o mais humilde deles e, na opinião dela, o mais carente de carinho. O homem de mãos dadas com a menina nem a notava no caminho, tamanha era a pressa que a maleta e o terno escuro dele traziam. Já a menina poderia esquecê-la ao ganhar um abraço caloroso da mãe, da tia, da família… Ou não. Ela nunca saberia, e a rua que hoje enfrentava era deserta e calma. Ela estava sentindo mais frio que o comum. Vestia o seu antigo e surrado cachecol vermelho que ainda guardava o cheiro do seu perfume floral. Sabia descrever cada milésimo de segundo dos seus movimentos. Ela já não era mais tão delicada, essa leveza se alternava com seus momentos mais frios e ela não sabia definir uma razão ou um pensamento fixo. Ali sentia-se fria e muito cética. Queria não imaginar que se sentia mal em um lugar onde não fazia nada além de comprar um cappuccino em um bar velho e não tinha nenhum tipo de relação com pessoa alguma, e que, sem dúvida, sentia muita falta disso e isso a incomodava.