Com tudo completo, intocável, ela era a única coisa que havia restado do sonho. O único elemento que outrora era fundamental hoje fazia parte de uma realidade qualquer. E de tanto passarem os dias, a realidade escorria por seus dedos finos de unhas compridas, não permitindo que outros sonhos crescessem e nem que o primeiro deles fosse aproveitado. De minuto em minuto, folheava um velho jornal amarelado, o primeiro jornal que havia comprado, tão sem necessidade para ela quando o noticiário que assistia todas as manhãs sem entender. Perdida em devaneios, aproveitava cada segundo sozinha dentro do quarto. Sabia que na sala haveria Lennon, cuidando seu rosto delicadamente através dos seus óculos pequenos, que na rua haveria os desconhecidos, só cruzando por ela, e sempre haveria uma criança pra ceder um sorriso de bom dia.
"O mundo todo é hostil..."