6 de dezembro de 2009
Queria de alguma maneira tentar explicar porque as músicas refletiam dentro de si mesma. Eram elas que faziam suas lembranças voltar, eram elas que inspiravam e que deixavam em seu interior um grito preso, um pedaço de recordação trancado na garganta, versos desejosos de voz, até mesmo lágrimas, o ápice de seus sentimentos. Não queria deixar os dias irem sem um sentido. Eram as antigas e clássicas contradições, que moviam as horas em um ritmo cansativo. Suas paredes chamavam alguém, até mesmo Lennon sabia que ela precisava de um complemento, e não sua metade. Não poderia se anular. O seu sofá verde mostrava que além dela, mais alguém deveria sentar-se ali, e ocupar o lugar das almofadas amarelas e laranjas com franjinhas que trouxera da casa da pessoa que a guardava em baixo das asas. O espaço vazio do sofá procurava ocupar com controles da televisão, e coisas tão supérfluas, que no lugar de substituir alguém, só a fazia lembrar mais que o lugar deveria ser ocupado. Mas não queria achar ninguém. A razão que por muito tempo procurava em sua vida, já havia sido descoberta. O céu que deliciava seus olhos, a porção escura e antiga da cidade, as praças convidativas que conhecia, os cappuccinos do café de portas vermelhas, os livros, as músicas. Tudo isso era sua felicidade, que não imaginava como alguém pudesse fazê-la, ou trazê-la. O homem de Saint Paul estava muito ausente, tal como seu perfume no cachecol. Ela só não queria depender de ninguém, não queria depender de um sentimento que amanhã poderia não existir. “Does anybody else in here, feel the way I do?”