21 de dezembro de 2009
Eram folhas amareladas. Para dar um tom mais clássico, havia queimado levemente as suas pontas. Que tipo de autor queimaria as pontas de folhas amareladas? Não era um drama. Era um conto de fada, daqueles com finais felizes. Pelo conforto que ele trazia a cada página folheada, era feito exatamente sob medida para àquelas situações. Talvez o autor se importasse com o sentimento do leitor mais do que o esperado, ou só quisesse fazer aquilo pra deixar mais bonito. Não importava. Levantou-se e foi até a janela ver se o tempo estava ao seu favor e, fitando Lennon, decidiu caminhar. Guardou o livro no maior bolso do casaco e suas bordas queimadas ficaram para fora, dando um ar de extremamente decididas. Imaginou que não seria possível ficar muito tempo fora de casa, sentia-se vagamente perdida longe das suas paredes e do seu chão. O negro dos seus cabelos fazia par com seus lábios vermelhos, e seus grandes olhos escuros marcavam profundamente o seu rosto. O cappuccino que comprara estava tão quente quanto gostava, e seu perfume floral exalava cada vez que passava por alguém, fazendo todos, em sequência, virarem os olhares ao seu encontro. Sentou-se no primeiro banco que havia livre. Sentia-se melhor quando não havia ninguém olhando. Tirou o livro do bolso, que dessa vez parecia muito menor, pois não abrigava nem metade do livro que antes só possuía algumas pontas de folhas para fora, e na sua contra-capa havia um esboço de um desenho. Entre várias linhas, identificou duas pessoas abraçadas, como se o último dia de sua vida fosse aquele, e não existisse amor maior que o representado ali.