
Da sua infância bem vivida, lembra em partes do medo do seu quarto e de carinhos paternos. E logo relembrou de outra sucessão de fatos. Era pequena, já não lembrava mais sua idade exata e também achava um detalhe dispensável. Seu maior espelho era sua mãe. Não que hoje fosse diferente, mas quando pequena, em sua sociedade limitada à quatro paredes da sua casa, sua mãe era realmente uma princesa, sereia e outras rainhas de contos de fadas. Logo que cresceu um pouco, ganhou uma pequenina sandália com duas tirinhas. O pequeno salto a deixava orgulhosa de pensar em ser como sua mãe um dia. Saiu pela rua, aquela rua de pedras e poeira, para poder mostrar a importância da frase da sua mãe, “Que linda, já é uma mocinha”. Como criança, sempre pensando em ser mulher, começou a correr, sem lembrar das tirinhas e do pequeno salto. Depois disso, além das vagas lembranças, tem a recordação do colo quente do seu pai e das mãos cuidadosas da sua mãe fazendo curativos nos seus joelhos e em uma das suas mãos. A sua pequena sandália tinha arrebentado e, na sua mente, ser “mocinha” já não era mais possível. Como sentia saudade da sua inocência infantil, e sabia que esse tipo de inocência não era presente nas pequenas “mocinhas” de hoje.