20 de julho de 2009


O canto da porta vermelha do café estava bastante sujo, pintavam nele tons de ferrugem e algumas poeiras já de “estimação”. Agora a garçonete de cabelos ruivos já era conhecida, e lhe trazia um cappuccino levemente adoçado e muito quente, como era de seu gosto. Sorriu-lhe e deu as costas, ocupada em pegar o pano de limpar o balcão, que fugira das suas mãos por duas vezes seguidas. Seus sapatos pareciam dizer um caminho para seguir, porém seus pés apressados e embaralhados (que ela vinha notando desde que voltara a frequentar o café) demonstravam sua personalidade atrapalhada. Frequentemente via o dono do bar soltando gritos e ameaças por todo lado para os funcionários. Era gordo e tinha uma careca extremamente bem lustrada e, se não fosse pelo fato de ficar vermelho e se sacudir impacientemente, ninguém notaria a densa peruca de fios loiros que tomava sua cabeça. Apesar de vários pontos negativos que notava no dono do bar, ele sempre desejava bom dia para seus clientes, e saía resmungando, falsamente contente, para a rua pegar um táxi e ir ao mercado. Em todo esse tempo, ela continuava lá. Ele voltava com pesados sacos de papel, na sua cor escarlate e no calor que sua raiva transpirava. Ela ainda continuava ali, tomando seu café e analisando o canto escondido e acanhado da porta, como se tivesse vergonha da sua sujeira. Quando um vento arriscava-se a cruzar por baixo do vão da porta, o pó sacudia-se devagar, as partículas erguiam-se… E desciam. Repousavam. Novamente, erguiam-se e desciam… Então pediu à garçonete um papel e uma caneta, ao passo que esta saiu aos tropeços para entregar o pedido. Sentiu-se mal por pedir para a moça de cabelos ruivos voltar, mas ela foi disposta e voltou com um peso de papel, uma bonequinha em miniatura. Curvou-se na mesa e escreveu “Os cantos também precisam de vocês.”, colocou embaixo do peso delicado, juntou o cappuccino, abriu a porta tocando o tintintlar e ficou observando atráves do vidro a reação dos longos cabelos laranjas e olhos azuis.

“O pensamento é o único lugar onde ainda estamos seguros, onde nossa loucura é permitida e todos os nossos atos são inocentes.”