
E agora… Qual seria o tema de sua vida hoje? O sentimento de abandono ocupava seu quarto, ela se deitava e sentia um afundar do colchão ao seu lado, a tão conhecida solidão apagava a luz e sussurrava em seu ouvido palavras de dor e sua garganta começava a doer, seu coração batia descompassadamente, dentro dos seus olhos sentia o peso daquela água salgada, e adormecia. Logo ao acordar, o dia refletiu em seu humor, um céu mais claro e receptivo transformaram sua tristeza em luz e cor. O que veria hoje? O que sentiria? Faria as mesmas coisas e não acharia mais interesse ali? Saiu para fora de casa pensando no que fazer. Era certo que viver somente com uma herança como a dela era uma ambição de qualquer pessoa, abririam mão de trabalhar e viveriam facilmente com muitos confortos. Sabia que lhe faltavam conversas, sorrisos e companheirismo. Como havia sobrevivido tanto tempo sem isso? Queria falar de poemas, romances e músicas, queria que seus cinco sentidos exercessem um papel importante e contrutivo de acordo com seus pensamentos afetivos. Já era outono… Já fazia tanto tempo desde o inverno que chegara ali. E aquele outono fazia as árvores derrubarem suas folhas (belos tons de dourado) lamuriosamente, lembrando que cada uma delas era uma parte do todo. Lamentando-se, de que perdendo aos poucos, no fim já não possuía nada. O formato delas não se definia. O chão era incrivelmente bordado de laranja, amarelo e tons de outono. E as folhas caíam… E os gramados das casas estavam intactos e extremamente verdes, os portões brancos estavam alvos e as casas iguais continuavam exatamente ordenadas como antes… É, é verdade. Ninguém arriscaria uma cor azul chamativo ou rosa pink entre aquelas clássicas casas brancas muito bem distribuídas e com seu terreno milimetricamente contado. À medida de seus passos, podia distinguir ao fundo de uma casa e outra, uma família sorrindo em mais um almoço, um cachorro correndo e fazendo brincaderas com três crianças, os pais filmandos os primeiros passos de um bebê. Era uma cena de cinema.