
Aonde estava transformava seus dias à razão do Carpe Diem. Associava o prazer de abrir os olhos com o dia continuamente especial e feliz. Tratava o governo com igual insignificância que era tratada, preferia seguir sua vida com seu ar poético e conquistas tão fracas – porém importantes – quanto sua solidão. Parecia mais sozinha do que seus olhos diziam… O tanto que sua vida passava de abstrato se fazia concreto nas pedras, nas flores, na humildade das sementes que traria novas árvores. Destas, a vasta copa traria a sombra, e dos vastos galhos penderiam frutos doces e matariam a fome daqueles que dela provariam… E tudo era causa da semente. Tão pequena e tão significativa. E ela o que seria em relação ao público visionário que encontrava ali? Seu particular era visto e criticado? Seus olhos e seus sentidos eram percebidos por aqueles espectadores? Era difícil dizer. Raramente encontrava um sorriso, era mais comum encontrar olhos cansados que não conseguiam absorver suas razões ou olhares pesarosos, com sentimento de pena. Não eram olhares dignos pois nem ao menos sabiam o que acontecia com ela. Como uma armadura, traçava dos pés à cabeça um sistema isolado do meio em que vivia e achava sua proteção e companhia no silêncio e nos acordes da música. No sibilar rouco dos pássaros e na singela repetição dos grilos e das cigarras… Que não via há muito tempo. Já nem lembrava do dançar das águas doces e de beleza de uma praia, tão colorida e igualmente azul, onde o horizonte era apenas uma linha que dividia os tons de azul. O tempo se mostrava agradável e receptivo, então ela decidiu sair e encontrar as folhas e a arte. Seu porte feminino esbanjava sua sensualidade, antes reprimida em seu casaco comprido e escuro. Usava uma bela blusa branca que cruzava abaixo do cós de sua calça preta, e botas brancas que faziam o barulho que tanto a encomodava. Seus cabelos estavam soltos, e devido à passagem de duas estações, estavam muito longos e chegavam na sua cintura. Levava também um lenço vermelho ao pescoço. Tão irônico ao lembrar da Guerra dos Farrapos, e momentos que refletiam em seu lenço, que por sua vez, pintava levemente seu rosto de rosado claro e trazia a bravura e o sentimento nacionalista à sua memória. E o que levaria aquele vermelho embora um dia? O homem complexo e irracional que exulta o fato de pensar além dos animais mas porta-se como tal… Que não sabe amar e coloca acima de pessoas, laços e corações a sua ambição, que derrama líquido vermelho e lágrimas salgadas e densas… (…)