17 de junho de 2009


Doce ilusão achar que encontraria companhia e o amor verdadeiro em um lugar aonde o céu esconde o próprio azul, e o sol brilha apenas em algumas frações do dia. Gostaria de pegar um papel, naquele exato momento, e demonstrar o que sentia em relação à tudo que vinha vivendo ali. Seu passado tinha sido tão cruel, e ela lembrava vagamente do rosto daqueles que de um momento para outro deixaram de amá-la. Mas não queria que, de suas mãos, do tenro grafite cinza daquele lápis que valia menos do que o valor que ele tinha para ela, saíssem palavras que relembrassem sentimentos que ela lutara fortemente para esquecer. Mas o seu real desejo, era colocar em memórias o que sentia, e sempre quis dizer para os outros suas contradições. Mas sua mão esquerda tocava aquele objeto tão significante e tão insignificante ao mesmo tempo, que começava a tremer e aquilo que era pronto para ser transmitido, dispersava-se como pássaros ao passo de um simples movimento. Talvez um cappuccino pudesse ajudar. Suas luvas geladas cobriam seus dedos, mas era em vão. Abriu a porta envernizada, e ela agora estava pintada de vermelho. Se perguntava a quanto tempo ela estaria assim, a quanto tempo a pintura havia sido trocada e a madeira que antes era tosca, apresentava-se nova. E quando a porta fez um tintlar para anunciar sua presença, alguém sentado no balcão virou o rosto para ela, e seus hormônios liberaram adrenalina. E aos olhos dela, pareceu que toda aquela adrenalina se voltara para suas pernas, que começaram a tremer nervosamente. De súbito, fechou a porta e voltou para fora, e somente depois desse ato completamente impensado, sentia-se inteiramente infantil e corada. Abriu a porta, e desejou que aquele sininho não estivesse ali. O homem de casaco marrom escuro e lenço no pescoço virou-se para ela de novo, e sussurrou um “Bom ver você novamente”. Achava que se respondesse poderia gaguejar ou falar besteiras. Preferiu ficar calada. Era ele, o homem que estendeu a mão para ela em frente à Catedral Saint Paul, o mesmo homem que ela, por vários dias seguidos, procurava o perfume entre suas roupas e sua mão, ficando intencionalmente frustrada, sabendo que ali não havia outro cheiro senão o do seu creme de pêssego. Mas ali estava ele em sua frente, sentado, tranquilo, tomando café com suas roupas escuras, e com o mesmo ar sereno que encontrou ela a tempos atrás.