21 de maio de 2009


Conseguia estar sozinha e ao mesmo tempo completa e super protegida… Por pessoas que ela nem mesmo conhecia. Aquele mendigo inválido perto da esquina da sua casa, que tinha uma fascinante habilidade com uma pequena e simples gaita de boca (razão de sua sobrevivência), aquela mulher baixinha que ia para algum lugar desconhecido por ela, que cruzava sempre com sua pressa costumeira e suas perninhas curtas mal alcançando o tamanho de seus passos, aquele homem de tão boa aparência, de mãos dadas com aquela menininha que, desde quando ela fora pra Londres, não lhe negara um tímido curvar de lábios. Aquela fração de minuto que andava e passava por eles, parecia significar um grande saldo positivo de afeição no fim do dia, justamente por não ter alguém que fizesse por ela um décimo do que recebia daqueles desconhecidos… Que não era nada além de um olhar, ou quanto mais, um “Bom dia” por terem acordado de bom humor, ou não terem passado frio a noite. Logo que acordou resolveu ir buscar o esquecido cappuccino. Mas no seu caminho, já não encontrou quem antes costumava encontrar. O mendigo fora recolhido para um abrigo. A pequena mulher, ela havia notado, cruzou com um carro. Deveria ser o fruto da sua pressa… Ou de qualquer outra coisa. E aquele homem com a menininha que era tão tentadoramente delicada e simpática, sumiu. E dali em diante, ela sabia que não poderia mais fazer seus dias por esse caminho. A falta de carinho a fez optar por vagar em outras Avenidas e ruas que levassem ao seu café com mais aconchego. Abriu a porta marrom pintada com verniz em madeira tosca, e sentou-se na mesa exatamente no canto do lugar. Era quente ali, o sol que nascia a leste conseguia passar seu calor através daquele vidro, e ela conseguia senti-lo perfeitamente bem. Preferia ficar ali do que voltar e não ver aqueles que a traziam segurança… Não queria acreditar na sua primeira perda… A perda daqueles quatro rostos apenas conhecidos.