
E durante dias foi assim que se seguiu. O homem e seu perfume com um cheiro forte que denunciava sua personalidade (Porque ele usava um perfume diferente agora?) olhava e sorria dizendo um “Bom dia”, ou mais raramente, “Como vai?” e seus dentes alvos apareciam, seu hálito quente parecia sempre se aproximar mais um pouco do seu rosto. Porém, somente seu silêncio conseguia responder àquele homem. E aquela coragem que sempre admirava em si mesma havia sumido. Logo que saiu dali, resolveu respondê-lo. Que mal teria? Seus cachos extremamente negros estavam comportados, seus dedos volta e meia os percorria, enrolando-os e soltando como uma pequena mola. Abriu a porta do café, surpreendidamente decidida, mas a linha de sua visão percorreu paralelamente ao chão, contornou os móveis, chegou ao balcão, e só conseguiu ver uma balconista que nunca havia notado ali. Tinha olhos muito azuis que faziam um enorme contraste com seu cabelo laranja. Vestia um casaco verde limão e em seu crachá estava escrito “Sarah” com letras bastante disformes. Sorriu para ela e perguntou se desejava o de sempre. De sempre? Quem era a funcionária nova que ela não lembrava? Suas mãos suavam e sacudiam-se de cima para baixo. Concordou com um aceno de cabeça.