
Pensou que seria bom materializar seus rostos e suas expressões ao longo daquela rua, pelo menos por um tempo de adaptação. Jamais imaginara que não vê-los todas as manhãs e fins de tarde, seria uma perda sem medidas. Mas é claro que com o passar dos dias, que já eram meses, ela esquecera da cor apagada dos olhos do mendigo, do relativo tamanho das pernas da baixinha, do curvar dos lábios da menininha… E eles simplesmente se extinguiram e deixaram um vazio em branco. Sabia lidar tão razoavelmente bem com a solidão, que não imaginara quanta falta sentiria das expressões cansadas, sofridas e alegres que ao passar deixavam seu cheiro tão característico… Como sempre, era sua casa que abrigava seus pensamentos e seus temperamentos, tanto ruins quanto bons. E era o seu sofá verde que gelava seus pés quando ela procurava os esquentar. E era o mesmo sofá que ela dormia quando o sono não vinha em sua cama, e o sorvete que ali comia, era o único alimento que preenchia a sensação de se sentir sozinha. Suas mãos delicadas com seus dedos finos e compridos se contraíam com frequência e procuravam um canto entre seus próprios braços cruzados para mantê-las em uma temperatura mais confortável.